Mãos calejadas. Mãos de trabalhar a terra. Mãos de Antero. Lembrei-me de um poema de Eugénio de Andrade, intitulado «Desde a Aurora».
Como um sol de polpa escura
para levar à boca,
eis as mãos:
procuram-te desde o chão,
entre os veios do sono
e da memória
procuram-te:
à vertigem do ar
abrem as portas:
vai entrar o
vento ou o violento
aroma de uma candeia,
e subitamente a ferida
recomeça a sangrar:
é tempo de colher: a noite
iluminou-se bago
a bago: vais surgir
para beber de um trago
como um grito contra o muro.
Sou eu, desde a aurora,
eu — a terra — que te procuro.
In «Obscuro Domínio».
Sem comentários:
Enviar um comentário