Clics e coisas boas



O Bolo rico e pobre, do Bote

As batatinhas que acompanharam as sardinhas

Um dos passeios pré-agendados é a ida à cidade de Olhão. Por diversas razões. Pelo Mercado dos peixes e mariscos e fruta e legumes, pelo jardim com bancos em frente à Ria Formosa e pelo almoço no Restaurante Bote, pelas gentes simpáticas desta cidade.
São dois os edifícios do mercado, separados por esplanadas, situado na avenida paralela à Ria. Um é da venda de frutas e legumes o outro de peixes e mariscos, do dia, fresquíssimos, quase vivos. A diversidade e a quantidade apresentada é uma visão encantadora para quem é um apreciador de peixe como eu e Sogrinha. Até Marido virou quase peixeiro, de tantas vezes comer peixe por aquelas bandas do Sotavento Algarvio. Não levávamos a intenção de comprar porque no apartamento não dá jeito nenhum preparar uma refeição de peixe. Fomos, sim, namorar os peixes expostos. Eles são carapaus, cavalas, sardinhas, litão (que era comido pelos pescadores para enganar a fome e agora virou gourmet), safio, garoupa, sargo, raia, peixe espada ... comparar os preços de alguns com os de Lisboa, apreciar os pescadores arrastando as caixas do pescado, os amanhadores e os vendedores dos ditos.
As gentes que giram por este mercado são de diversas nacionalidades (louros, morenos, árabes, mulheres vestidas dos pés até ao cabelo com os olhos à mostra) e de localidades vizinhas de Olhão. Os estrangeiros, por vezes nem sabem bem o que querem comprar, não conhecem, pedem tradução. O grilled swordfish lá vai saindo. E também mackerel para fritar, sardines. Compram porque sai mais barato fazer em casa do que irem a restaurantes. Os vendedores bem se esforçam para explicar, utilizando algumas expressões linguísticas que pensam ser do conhecimento do freguês, mas por vezes não conseguem porque os fregueses não os entendem. Nós portugueses, falamos outras línguas sem as falar e fazemos um esforço enorme para os outros nos entenderem. Somos formidáveis. E se não entenderem em inglês, espanhol ou francês, vai a linguagem universal mesmo - a mímica. É muito bom deambular por locais assim. Não trocava este sítio por nenhum idêntico no país mais longínquo e exótico que fosse oferecidos pelas agências de viagens. Talvez trocasse pela Índia, mas isso são outros trezentos.
Não posso garantir que é o maior Mercado de peixe do Algarve porque não tenho dados, mas que é o melhor que conheço, não tenho dúvidas que é.
O outro edifício, o das frutas e hortaliças, é um encanto para os olhos. O cuidado posto nos arranjos das bancadas, a diversidade das cores dos legumes e das frutas no início do mês de Junho, é espectácular. Apetece trazer um bocadinho de cada... Desta vez, trouxemos umas cerejas negras bem portuguesas, uns figos de cor roxa alongados e dulcíssimos, tomates cheirosos, pepinos docinhos, pimentos carnudos e alface arroxeada, coentros e, claro, uma dúzia de bolinhas de figos secos recheados de amêndoas, canela e açúcar, de uma banca de esquina onde a vendedora, muito simpaticamente nos ofereceu um fruto seco, esticando o braço para nós, convidando-nos a provar. Atrás dos figos, vieram as amêndoas, pequenas redondas e doces. São uma simpatia e um encanto este Mercado e estas gentes de Olhão.
De seguida fomos à loja azul, como eu lhe chamo por não ter fixado o nome, escolhida pela cor, do outro lado da rua, comprar Amêijoa Boa. Tem de ser. Incomportável para o nosso bolso 3 doses de amêijoa Boa, em qualquer restaurante. Poucas no prato e caríssimas. Assim, enchemos a barriguinha. É o único prato que cozinho no apartamento. Meio quilo de amêijoas para cada um de nós, a serem confeccionadas à Bulhão Pato. Uma refeição e pêras! E, se eles forem bonitos, uns camarões cozidos (no dia e ainda mornos) para guardar no frigorífico e degustar em tardes ou entradas de refeição ligeira, em dias de calor, com uma cervejinha bem gelada ou um verdinho branco. Depois se veria. Pedimos sempre para guardar no frigorífico até depois do almoço. Sim, porque ir a Olhão sem almoçar no Bote, não é coisa que nós façamos.
Continua a ter à entrada o mesmo patrão, a olhar pelas brasas e a cumprimentar quem entra. Não estarei equivocada se lhe chamar Mestre? E lá estavam as duas senhoras que servem a refeição, muito simpáticas, sempre solícitas, que vamos revendo a cada ano que passa. Sardinhas para os três, pois então. Bem escolhido. As primeiras comestíveis, sem estarem secas. Já largavam a «casca» Com batatinha cozida temperada com imenso azeite e coentros. E a salada picadinha à moda deles... Estou a salivar só de lembrar. E para sobremesa? Para além da torta de amêndoa que é uma delícia, ela sugeriu o bolo rico e pobre. O que é isso? «É um bolo que leva massa de amêndoa, farinha de alfarroba, doce de ovos e amêndoa. Depois há-de dizer-me se não é bom!» ao que eu respondi que «só para o ano». «E eu cá os espero», respondeu bem disposta.
Uma oferta de boa cozinha para bons garfos (não pela quantidade que ingerimos) e nada dispendiosa.
A seguir ao almoço, mais um olhar de despedida sobre a Ria Formosa, sob um sol abrasador, antes de ir buscar o saco do marisco à loja azul e entrar no carro, rumo a Tavira.
«O jantar são as ameijoas?» pergunta Marido, ao sentar-se ao volante :). «Mas ainda agora almoças-te!!!» E partimos, pela 125, rumo a Tavira.
De tarde iríamos para a piscina e ainda havia uma sesta para fazer.

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