Li José Saramago. Era uma homem atento ao mundo, esclarecido, na esquerda da política. Veio de baixo, subiu e atingiu o topo da sua vida de escritor ao lhe ser atribuído o 1º Prémio Nobel da Literatura Portuguesa. O motivo para essa atribuição foi «aquele que, com parábolas sustentadas pela imaginação, compaixão e ironia continuamente nos permite mais uma vez apreender uma realidade indefinível».
Foi um escritor duma escrita muito particular, nada fácil para mim. Não era um escritor que eu levasse para férias. No entanto li «A Jangada de pedra» e embora não estejamos à deriva e sós, continuamos à procura de um rumo, apesar de estarmos parcialmente integrados em alguma coisa europeia.
Posso afirmar que não consegui ultrapassar a metade do «Memorial do Convento». E li e reli cada página, a ver se me entrosava na estória.
Li «Ensaio sobre a cegueira», fiel relato duma sociedade que não quer ver e é socialmente injusta.
Já com Caim, senti-me não ofendida. Dei comigo a sorrir e a rir, muitas vezes, durante a leitura de alguns trechos. Talvez por eu não me sentir muito católica ou religiosa, compreendo o que quis dizer quando escreveu «A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele». E não é verdade?
Ficou-me na ideia que José Saramago foi um senhor muito dono do seu nariz, um criador de metáforas sobre o homem e o seu destino. Ah! e também «zangado» com o seu País natal. Não o censuro por isso, muitos de nós estamos zangados mas continuamos por cá.
Referi o seu «mau feitio», porque encontrei um trecho, retirado da Internet, que suporta o meu parecer:

"A Língua é minha, o sotaque é seu". Com esta acutilante e irónica frase respondeu Saramago, numa conferência recentemente realizada no Brasil, a um jovem brasileiro que se manifestou algo confuso dado que não entendia a pronúncia do autor de Memorial do Convento. Serve este simples exemplo para demonstrar que Saramago não se pode identificar com a simplicidade existencial, muito menos com a utilização da nossa Língua, na qual encetou, não sem polémica, caminhos de subversão na escrita aliados à subversão temática.

Até!

2 comentários:

Elvira disse...

Alô. Tenho também pena que nos tenha deixado José Saramago. Mas deixou-nos a sua obra e uma fundação com o seu nome. Ganhou, para além do prémio Nobel da Paz, o prémio Camões devido ao seu estilo na escrita e na pontuação. Não era fácil de ler, de facto: apenas li o "Memorial do Convento" que por acaso me foi oferecido. Se não fosse assim, acho que não teria lido nenhuma das suas obras.
Um homem admirável, e lúcido até ao fim, apesar da idade. Gostei do artigo. Beijos.

Guidinha Pinto disse...

Obrigada pelo comentário.
Beijo Elvira