Atrasadas no tempo, mas com estória




Não são imagens de Inverno, sãos imagens que cliquei e lembro de uma tarde, nas últimas férias de Verão na Serra da Lousã. Encontrei-as recentemente. Contam um instante de um fim de tarde de 14 de Setembro, de 2010.
Estava eu refastelada na espreguiçadeira no pátio lá do meu sítio, a olhar o céu e a limpar neurónios, apenas preocupada em respirar, quando fui despertada por um aroma a coisa queimada. Abertos os olhos a modos de ver, mas não vi nenhum fumo que correspondesse àquele aroma, bastante intenso e meu conhecido.
Sentei-me. Havia fogo por ali. Passei o olhar à minha volta, e nada. Nem do lado da Ribeira, nem da Pena, nem dos Povorais, nem do Vale Torto, nem da Póvoa. Era mais longe que a mata estava a arder.
Descansei-me de novo, pois, que havia eu de fazer?! Uns minutos e um som, longínquo, meu conhecido de outros écrans. Havia mesmo um incêndio e a ajuda vinha a caminho. Lá vinha ele com o balde dependurado e cheio e seguia, em direcção ao Nascente. Cliquei-o até ele passar por cima de mim. A noite foi caindo. Fui tratar do jantar.
Nessa noite, nada de céu vermelho nem aroma a coisa queimada. Ainda bem, que aquela serra tem estórias que cheguem de grandes incêndios. De vidas perdidas. De património diminuído a uns, aumentado a outros...
Recordo e estou a sorrir. «Ulha um pricópio» era a frase ouvida noutros anos, de braços estendidos e dedos esticados. Coitado do pericópio, feio mesmo e mais lento, voava mais baixo e a tonalidade era escura. O balde dependurado nem tinha onde encher. Outros tempos em que não se esperava ajuda do ar, nem havia telefones nas casas, quanto mais telélés. Mas se fosse nas redondezas, perto dos bocados de cada um, a malta ia de enxada ao ombro e nas mãos ramos de eucalipto e sacas de serapilheira, a pé ou de boleia. Não podia era o fogo avançar.
Hoje ouve-se é o «éli, anda aí fogo» e esperam. Na maior parte das vezes esperam também que outro alguém telefone. «Então achas que eles já não sabem que há fogo!!!». É. Sou de Lisboa. E tenho um feito desgraçado de não esperar e avançar, quando é preciso.
Continuam os incêndios. Ano passado foi mais para Norte. Mas não tem comparação. Os meios dispostos pelo estado ao serviço da prevenção e actuação sobre os incêndios, pelo menos lá no meu sítio e arredores, têm sido eficazes.
Ficam os clics.

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