Está na massa do sangue

Faz hoje 23 anos que José Afonso deixou de estar. Ficou a obra. É dele o parágrafo seguinte.

"Não me arrependo de nada do que fiz. Mais: eu sou aquilo que fiz. Embora com reservas acreditava o suficiente no que estava a fazer, e isso é o que fica. Quando as pessoas param há como que um pacto implícito com o inimigo, tanto no campo político como no campo estético e cultural. E, por vezes, o inimigo somos nós próprios, a nossa própria consciência e os álibis de que nos servimos para justificar a modorra e o abandono dos campos de luta."(*)

Ontem ouvi e olhei José Sócrates, entrevistado por Miguel Sousa Tavares, numa rubrica nova de um canal português de televisão. Gosto da incisão das perguntas de Miguel, por isso fiquei a olhar o ecran.
No final da noite, depois de digerir mais um dia de informação sobre a calamidade que se abateu sobre a Madeira, a entrevista, o sono tranquilo e o estar agora aqui, penso e escrevo:
1 Lamento muito o povo Madeirense que teve e ainda está a passar por aquela aflição. Lamento a morte de 1 homem-bombeiro e as outras mortes todas. Os bens serão repostos, as pessoas não. Não lamento que todos os jornalistas do mundo tenham desobedecido às ordens do grande líder madeirense e tenham passado a notícia desse desastre. Com imagens e tudo. E não nos confundiram com a Península Ibérica. Era mesmo uma ilha, a Madeira e Portuguesa. Talvez a informação não tivesse ultrapassado as fronteiras do Planeta, mas quem sabe?
2 Os boys existirão e serão sempre os boys. «Atrás» dos políticos, de cadeira em cadeira, nomeados por todos os vermelhos, amarelos, laranjas, azuis, rosas ou roxos. Mas ... diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. Escolha melhor os seus boys, senhor Primeiro Ministro. Devem existir mais umas centenas. Aprecio a lealdade em geral. Os amigos, são os que nos entram porta adentro e nós deixamos, até os convidamos. O problema é nosso, a nossa privacidade é mesmo isso - privacidade. Não pode nem deve ser devassada. Assim como as escutas telefónicas, que no nosso País uma Lei as considera não públicas e ei-las escarrapachadas diariamente para confundir o pagode. No entanto, quando os boys entram na coisa pública porque sim, nós, os que o elegemos a sí (ou a outro) não temos forçosamente de ser amigos deles. Principalmente se eles perderam a nossa confiança. Sinto-me mal com o diz que disse, o ouvi dizer ... Serão seus amigos senhor primeiro ministro, mas estão a contas com a má língua, com inquéritos às costas. E vivemos num País onde uma inverdade repetida mil vezes se torna verdade. Autoritas gasta-se, desgasta-se. Fiquei desiludida com a sua lealdade para com os seus boys-amigos. Que mais posso dizer?
Para escolher um lado, é preciso conhecer os dois.
«Admito que a revolução seja uma utopia, mas no meu dia a dia procuro comportar-me como se ela fosse tangível. Continuo a pensar que devemos lutar onde exista opressão, seja a que nível for.»(*)
Estou tão cansada!
(*) José Afonso

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