Gosto da estória das Cegonhas. Faz-me bem, no dia de hoje

Principio por dizer obrigada amiga I. Eusébio por partilhar comigo estes momentos de ternura (clic).

Todos os bebés do Planeta Terra são criaturas acabadas de nascer. Eu, que estive a olhar atentamente a estória, digo: Coitada da cegonha que calhou àquela núvem cinzenta, que coitada é também, porque sente pena e se manifesta perante o destino da sua cegonha. É da natureza de cada um ser como é. Mas todos os bebés do filme são parte intrínseca dum pequenino calhau, o 3º a contar do Sol, o «pálido ponto azul» como lhe chamou Carl Sagan. Nós, os humanos, que inventamos estas imagens e estórias, poderíamos, se quiséssemos, moderar os nossos comportamentos. O Lar-terreno dos bebés do filme é o nosso. Somos nós e todos os seres quando nascem, a Natureza do Planeta Terra, um pequeno grão de pó, suspenso num raio de sol.

De Carl Sagan, mais uma vez coloco esta mensagem, traduzida para português pela Wikipédia: «Numa conferência em 11 de Mario de 1996, Sagan falou dos seus pensamentos sobre a histórica fotografia (1) : «Olhem de novo para esse ponto. Isso é cá, isso é a nossa casa, isso somos nós. Nele, todos a quem amam, todos a quem conhecem, qualquer um do quem escutaram falar, cada ser humano que existiu, viveram as suas vidas. O agregado da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas económicas, cada caçador e colector, cada herói e covarde, cada criador e destrutor de civilização, cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada super-estrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ai, num grão de pó suspenso num raio de sol. A Terra é muito pequeno cenário numa vasta arena cósmica. Pensai nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, vieram eles ser amos momentâneos duma fracção desse ponto. Pensai nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores dum canto deste pixel aos quase indistinguíveis moradores dalgum outro canto, quão frequentes as suas incompreensões, quão ávidos de se matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios. As nossas exageradas atitudes, a nossa suposta auto-importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são reptadas por este pontinho de luz frouxa. O nosso planeta é um grão solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios que vá chegar ajuda de algures para nos salvar de nós próprios. A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que alberga a vida. Não há mais algum, pelo menos no próximo futuro, onde a nossa espécie puder emigrar. Visitar, pôde. Assentar-se, ainda não. Gostarmos ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.Tem-se falado da astronomia como uma experiência criadora de firmeza e humildade. Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso miúdo mundo. Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portar-mos mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar que tenhamos conhecido.»

Pobre povo haitiano nascido num pequeníssimo grão de pó, paradisíaco, situado no tal pálido ponto azul. Tem este povo de continuar a sobreviver com muito menos do quase nada que possuiam. Para quem tem poucas posses, pouco perde, para além da dor que é a única coisa que aumenta. Para além dos estremeções das guerras com que os seus diversos ditadores o presenteiam, mais este estremeção.
Lamento muito.

Sem comentários: