Mais um Adeus


Faleceu e vai descer à terra, amanhã, em Góis, o Ti Alberto Bandeira, nascido há quase 89 anos na Cerdeira. Foi marido da senhora professora primária que leccionou toda a sua vida na Escola Primária da Cerdeira de Góis e já falecida, também, há muitos anos.
O Ti Alberto será sempre uma referência na minha vida. Dono de uma mercearia e de uma taberna, ligadas por um corredor interior, era lá que em férias nos abastecíamos de mercearia. Também era o único sítio a ter telefone, daqueles com caixa acoplada onde se encaixava uma moeda de cinco tostões e se podia falar durante algum tempo. Ficou-me o cheiro do açúcar amarelo no reservatório com tampa em madeira, da cor dos rebuçados nos frascos a dois 1 tostão, dos pacotes de bolacha Maria e de bolacha torrada, do azeite ao litro, das carcaças e ao lado, do vinho tinto a copo ao balcão ou ao litro, das gasosas e das laranjadas, do bocadito de presunto ou das sardinhas fritas em cima do balcão para os homens petiscarem, da serradura espalhada pelo chão depois de varrido, sei lá que mais poderei ir buscar à minha memória para retratar os momentos vividos na ida ao Ti Alberto durante tantos anos, em férias. Também se jogava à sueca. Cá fora no pátio em terra, os homens jogavam à malha e conversavam. Houve uns anos, que o Ti Alberto se aventurou a assar frangos, mediante encomenda. Que belos frangos nós petiscamos e que belos tempos esses, meu amigo ido.
Há mais de 20 anos, que o Ti Alberto foi visita da nossa casa, no tempo do senhor meu Pai. Era uma pessoa respeitadora que gostava de brincar e também muito prestável. Depois de enviuvar, já não passava tanto tempo na sua taberna, não havia freguesia e sentia-se só. De vez em quando aparecia. Descia ao fundo do lugar e fazia gosto em levar-nos uma travessa de ameixas, roxas e amarelas, grandes, doces, sumarentas, que ele cuidava no seu quintal. Foi convidado a almoçar connosco algumas vezes e até a participar nas nossas festas de aniversários. Sabia fazer de tudo. E dava uma mão, mesmo sem lhe pedirem. O senhor meu Pai foi algumas vezes agraciado com a ajuda dele, solidária e de alguma sabedoria, na construção de um muro, numa caiadela de outro, no enxertos das videiras ... O senhor meu Pai que foi marujo de profissão e na sua reforma quis lançar-se noutras lides diferentes, bem vindas foram as outras mãos sabedoras de outras artes, como as mãos do Ti Alberto.
Vou ficar com muito boas recordações deste senhor nascido na Cerdeira de Góis. Fica a saudade. Os nossos pêsames Julinha, estendíveis a tua irmã e restante Família.

Até sempre.

PS: vou procurar uma foto para ilustrar esta despedida.
Já encontrei. Roubei à Marisa.

6 comentários:

O.Bandeira disse...

D. Guidinha,gostei do seu "desabafo",tambem para mim o Sr. Alberto foipessoa de muita consideração! Acabo de chegar da cerimonia do funeral onde se encontravam bastantes pessoas.
Que Deus lhe dê o Eterno descanso!
Abraço
O.Bandeira

Anónimo disse...

Já há uns anitos que não ouvia falar do ti Alberto, marido da professora. Imaginava, Deus me perdoe, que já se tinha ido! Bem, a Cerdeira vai ficando cada vez mais nua, sem estes "antigos" que tinham ali toda a sua vida. Enfim, que tenha ido em paz. Elvira.

Alberto Manuel Henriques Barata disse...

Cara Guidinha, foi agora ao visitar o seu blogue, que tomei conhecimento do falecimento do meu querido padrinho,tomando também conhecimento, de que já ocorreu o seu funeral.
Confesso, que fiquei transtornado ao tomar conhecimento de tal factualidade, sentindo ao mesmo tempo revolta, pelo facto de ninguém me ter informado de tal funesta ocorrência!
Como é óbvio, gostaria de ter estado ontem em Góis, para o acompanhar à última morada.
Resido em Cascais e por vezes tenho a sensação, de que as pessoas, que me são muito queridas, residentes no Esporão e na Póvoa da Cerdeira, não me querem perturbar com noticias tristes!
Assim que tiver disponibilidade, irei a Góis visitar o meu querido padrinho, com quem sempre mantive uma relação de muito afecto e muita cumplicidade!
Para a IVONE e JULINHA um abraço de solidariedade.
Até um dia querido padrinho.
Alberto Barata

Guidinha Pinto disse...

O. Bandeira, obrigada por ter deixado comentário no meu post. A ver se nos conhecemos quando eu der um salto à Serra. Posso procurá-la já que temos em comum algumas lembranças?
Fique bem.

Pois é Elvira, deixamos de ver as pessoas e esquecemo-nos da existência delas. É a vida.
Beijo.

Alberto Barata, lamento não ter tido conhecimento do falecimento do senhor seu Padrinho. Tal como escrevi em cima, esquecemo-nos da existência uns dos outros, quando não convivemos amiude. Que se pode fazer? Mudar-mos a maneira como nos relacionamos e esperar que não torne a acontecer idêntico episódio.
Fico satisfeita por ter deixado o seu comentário e aproveitado o espaço para se "despedir".
Fique bem.

O.Bandeira disse...

Este falecimento não foi divulgado,foi por acaso que tomei conhecimento ja bem tarde e juro que me lembrei logo do Sr.Dr. Alberto,mas nunca pensei que familia chegada não o avisasse,mas depois de chegar a Igreja calculei logo o acontecido,pois so Ribeira e Cerdeira estavam presentes!

D. Guidinha tenho todo o gosto em conhecê-la,pode procurar-me sempre que passe no Esporão,pois vivo mesmo na beira da estrada principal.

Abraço

O.Bandeira

Aldeia do Esporão disse...

Também nós não soubemos a tempo do falecimento do ti Alberto... nem para comunicar nem estar no enterro.
Guidinha Ainda bem que recolheu a fotografia, esteja à vontade.
Em relação às que actualmente estamos a publicar, faça o mesmo. A intenção é mesmo essa, antigamente poucos tinham máquina. E quando tinham, por vezes distribuiam fotografias, desaparecendo algumas entretanto.
Serve o Album do Meu tio Cassiano para isso mesmo. Agradecemos ao tio Casimiro que concerteza as tirou...