Duas horas bem empregues.

Depois de alguns afazeres domésticos e da criação tratada (a Bianca, o Xico canário e o Man Beta), arranjei um tabuleiro com um pão com queijo fresco e alguma fruta da época e fui sentar-me confortavelmente em frente da televisão, para assistir a um qualquer filme. Fui zapeando e parei na TVC2, que estava a iniciar «O Segredo de um Cuscuz» ou «La Graine et Mulet» do realizador franco-tunisino Abdelatif Kechiche, de 2007. Como tenho assistido a filmes de realizadores meus desconhecidos e tenho apreciado bastante, propus-me vê-lo.
Senti pena, fui solidária, sorri, lacrimei, indignei-me, enfim, uma estória humana e actual. Um drama, passado na cidade costeira de Sète, França. Uma estória que retrata o hoje das famílias numa Europa aberta à emigração. Reconheci alguns dos nossos problemas, dos problemas desta Europa neste filme. As dificuldades em concretizar um sonho que tem tudo para dar certo apesar das teias da burocracia.

«Numa altura em que O Sr. Beiji, pai de família de sessenta anos com emprego precário esforça-se por manter a família unida, apesar do historial de tensões que sentimos sempre próximas da ebulição. Tem o peso do falhanço em cima dos ombros e um sonho, o de construir um restaurante. Num panorama negro, ele fala do seu sonho, sobretudo com a família que se vai solidarizar pouco a pouco com ele. O sentido de entreajuda poderá trazer o projecto a bom porto, ou talvez não... porque no final ficou no ecran não um fim, esperado ou não, mas o desejo que eles tivessem conseguido. Por ele e pela enteada principalmente. os realizadores ocidentais fazem gáudio em filmar histórias de famílias disfuncionais, estilhaçadas ou em dissolução, cabe a um realizador vindo do Norte de África para a Europa, rodar uma história centrada numa família oriunda da imigração, que ultrapassa querelas interiores e problemas exteriores para se reformar em redor de um dos seus membros, dela alienado. Minuciosamente escrito e filmado por Abdelatif Kechiche, que deixa de fora toda e qualquer preocupação de "tese" ou de "denúncia" habitual e penosamente associadas a filmes passados neste ambiente, e construído à base de um invulgar sentido de observação humana, quer individual, quer colectiva, ‘O Segredo de um cuscuz’ é um notável elogio da união familiar, e da importância de pertencer a uma comunidade com uma identidade, valores e sonhos partilhados».
Sérgio Abranches em http://timeout.sapo.pt/

Dica: Este filme torna a passar amanhã às 02:40h.

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