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A caminho da praia de Manta Rota, visitar Cacela-a-Velha é imperioso. Cacela-a-Velha fica situada no extremo Este do Parque Natural de Ria Formosa, ponto onde acaba a ria, no meio das dunas, a caminho da praia de Manta Rota. Não foi afectada de nenhum modo pelos turistas. Não nasceu para isso. Quem vem, segue, não fica. Não cabe. Penso que só em grupo ou em eventos culturais é invadida. Depois, o silêncio e os olhos perdem-se pela Ria e pelo horizonte. Vi uma casa à venda, onde um gato aproveitou e dormiu a sesta no canteiro que já teve flores.
As casas, na sua maioria, davam sinais de estarem vazias. Outras, sinais de abandono, como uma, no largo do Cemitério, já com as paredes esburacadas e com candeeiro de rua a tombar dela. Não tarda e está no chão. Poucos habitantes? Só sasonais? Talvez. Não chega juntarem-se os turistas nos fins de tarde de Verão e falarem de Ibn Darraj al-Qastalli, nascido em Cacela por meados do século X, nem de bruxas, nem de olhares às estrelas do firmamento. São momentos para turista levar como recordação. Não chega haverem dois restaurantes: “Casa Velha” e “Casa Azul”, com um deles a fechar às segundas para descanso do pessoal. Qual descanso? E durante os outras estações do ano? Ou mesmo em início de Junho? Senti uma passagem daquela coisa chamada degradação, que veio para ficar, se não houver um acorda, vê e conserta. Falta ali mão de gente que gostasse de arranjar, não só o que é seu, mas à volta também. Porque o núcleo habitacional é pequeno, com uma dúzia de casas, se tanto. Só vi uma mulher, magra, que retocava a pintura azul à volta das janelas, que contrastava com o branco das paredes caiadas da sua casa. Comentei o efeito positivamente. Não me pareceu algarvia. Cumprimentou com um sorriso e não fez questão de esconder a trincha que segurava numa das mãos enluvadas.

O núcleo histórico está classificado como Imóvel de Interesse Público, mas e o resto? Tenho pena. É um sítio único para se viver, para se estar a olhar e a respirar. Um bocadinho de Portugal, dos pequeninos, mas belíssimo e com história.
Tipo postal

Turista resguardada do vento fresco que soprava

A segunda casa, está à venda.

Os fios eléctricos atravessam a foto. Fazem parte da paisagem

Contraste. À direita havia gente. À esquerda, não.

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