Já fui muito feliz nesta cidade, há muitos anos atrás



Na terra de Eduardo dos Santos, quando ainda não era ele o Senhor-Absoluto, vivi com a minha família durante 1 ano escolar. Luanda. Só um ano e ganhei-lhe amor. Quando ouço e vejo notícias, penso sempre nas colegas que tive na Escola Comercial Vicente Ferreira. Como estarão? Sobrevivem a este caos ou viverão noutro patamar? Era uma teenager em 1970/71. Só tenho boas recordações dessa época. Vivia na Baixa da cidade, na Rua Salvador Correia. Da varanda, desfrutava de toda a Baía. Mais ao longe, a Ilha. Adorava a Baía, as suas águas e as regatas de fim de semana. Foi lá que aprendi a nadar. Lá, era preciso saber nadar. Tinha comprado o meu primeiro fato de banho de duas peças, aqui, no puto. Não podia ficar o tempo todo na areia, ao sol, embora nesse tempo não se previsse o mal que o bronzeado natural poderia fazer à nossa pele ...
E então aprendi a nadar na Baía de Luanda, ao lado da Base Naval, onde o senhor meu Pai cumpria 5 anos de missão. E também noutro local, embora na água doce, onde era mais pesadita e tinha de me esforçar mais para não ir ao fundo. Aos sábados, D. Alexandra, vizinha do lado, simpatiquíssima, levava-me juntamente com seus netos, à piscina Nuno Álvares, inserida num club que havia à entrada da Ilha de Luanda, do lado direito. E ficar de môlho, não dava jeito nenhum. Recordo o senhor meu Pai que fez questão de me dar umas dicas: - aprende a flutuar, sem medos. Daí a saberes nadar, é um pulo. Tens de perder o medo e engolires uns pirolitos...
E eu deitei-me sobre as ondinhas de água salgada, transparente, azulada. Batia com o rabo na areia, mas esticava-me logo a seguir,puxando o pescoço para trás o mais que podia. Mexia pernas e braços sem sair do mesmo sítio. Pouco e pouco entreguei-me, deixei-me levar no balanço. E deixei que as águas me tapasses a cara. E engasguei-me. E sufoquei com o «goto» invadido pelo sal. E teimei em deitar-me sobre as ondinhas. E deixei-me embalar, a olhar o céu, com os ouvidos cobertos pela água salgada. Até que não me engasguei mais. Ou antes, o engasgamento não me assustava mais. E perdi o medo. Aí, o senhor meu Pai disse-me: Já não te afogas!
Como estarão hoje as águas da Baía de Luanda? Poderia eu nadar nelas, hoje? E os meninos de lá, terão ainda alguma Baía para poderem nadar? Ainda haverá camarões a desovar nessas águas? Que pena. Quero não pensar nisto. Mas não consigo.

«.../Angola do petróleo, do diamante e muita madeira / Angola do paludismo, febre tifóide e muita diarreia » como canta Dog Murras, em http://cabinda.unblog.fr/2008/02/07/tchize-dos-santos-lanca-forte-apelo-a-tolerancia-na-sociedade-angolana/

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