Ausente com olhos de coruja

Estória 1 - Vim para casa há uns tempos. Coisas de saúde. A trabalhar num Hospital há muitos anos, tive sempre um médico que me ouvisse e tratasse ou encaminhasse, quando necessitei. Um bem-hajam para todos eles, os médicos do IPO de Lisboa. Agora é uma chatice. Quando tenho ou preciso de ir ao médico, vou, a custo. Optei por ter um especialista - para o coração - e para o resto, pensei, irei ao Centro de Saúde. Até tinha médica atribuída no cartão e tudo! No dia marcado, foi com alguma angustia que subi um primeiro andar para a consulta da Médica de Família, pela 1ª vez. Quando ela vinha à porta chamar doentes ou entregar papeis, olhava-a, avaliava-a. Esta seria, pensei eu, minha ouvinte. Pareceu-me simpática. Como os que haviam lá no meu Hospital. Enganei-me redondamente. Marcada para as 17h, levei a papinha toda escrita, com os relatórios e tudo. O tempo foi passando e perto das 20h veio chama-me. Entei, disse boa noite e ela olhou-me de lado e estendeu-me a mão em cumprimento. Não tive um aperto de mão, mas uma mão com os dedos esticados. Uma primeira vez a esta hora? foi a frase de apresentação. Sente-se. Não me olhava. Então, o que a trás por cá? Ía começar o relambório. Puxei dos papéis e ela afligiu-se, coitada, com tanta coisa para meter no computador àquela hora. Mandou-me tirar fotocópias (?!?) no rés-do-chão para as guardar numa pasta. A mim. Descer as escadas e depois subi-las de novo. Nem pensar. A porta estava entreaberta e um funcionário que apareceu (passava da hora de fechar) dispôs-se a fazê-lo. E quando eu me preparava para falar do que lá me tinha levado, com 3 horas de atraso, ela já não teve tempo para mim. Mediu-me a tensão - ao menos deixe-me medir-lhe a tensão arterial! - coisa importantíssima e depois pediu-me um exame, sem necessidade. Eu sei do que falo. Mas eu não venho queixar-me do coração, tenho médico para ele, respondi. Pensei -não preciso dos não-conhecimentos desta médica-de-família. Replicou: - Ora essa! Então não posso pedir um ecocardiograma? Mas para quê se o meu cardiologista lhe tinha enviado, a meu pedido, um relatório minucioso? Recusa-se a fazer o exame que eu peço? gritou. Pasmei. Eu já só tinha era fome. Nunca mais lá voltei e penso não voltar. Não conheci nenhum médico que tratasse assim um doente, mesmo em final de turno. Eu, que até paguei a taxa moderadora, esperei 3 horas pela consulta marcada sem perguntar o porquê da espera e há mais de 20 anos que constava na suas lista.

Estória II - Não é coisa que me agrade, isto de eu ter de ir aos médicos. Quando a família me pergunta o que é que ele disse? eu respondo - mas sou eu que falo! E não é? No fim eu é que falei, apesar da minha dificuldade em expressar ao médico as minhas queixas. Eu não me sei queixar. Fico atrapalhada com as palavras, não sei por onde começar e só se apresento alguns exames complementares que me foram pedidos, arranco. Por defeito do ofício, talvez. Não sendo médica, trabalhei ao lado deles e ouvi muitos doentes. Após tantos anos, aprendi que é melhor ser precisa e rápida nas queixas a apresentar. E a coisa que até vai bem pensada, por vezes não sai da mesma maneira, perco-me e há dúvidas que deixo por tirar. Só me recordo quando já estou cá fora. Nervuus...
Tudo isto para dizer que uma simples visita ao Oftalmologista me deixou impedida de ler, de vir até aqui, de olhar para a televisão durante 4 dias. Muito a custo a pupila lá fechou. O exame ao fundo do olho é uma coisa complicada. Não é doloroso, mas sempre que foi preciso fazê-lo, deixou-me com olhos de coruja durante mais tempo do que o desejável. Mas já estou de volta.
Para melhor documentar olhos de coruja, fui aqui - http://www.kalinesia.com/ - roubar uma imagem.

2 comentários:

Unknown disse...

se a entrada na universidade tivesse mais em conta a vocação e não as notas (e o dinheiro dos pais gasto em explicações) talvez fossemos melhor atendidos!!!!
Beijinhos e bom fim de semana!

Guidinha Pinto disse...

Olá Tina. Penso que foi mais uma questão de embirração pessoal. Isto de termos perdido o hábito de tirar o chapéu e abaixar a cabeça ao senhor doutor, juntamente à falta de educação, de civismo - que todos somos iguais ... mas há uns mais iguais que outros ... se eu tivesse mandado vir ... se, se. Pois se eu necessitar de voltar ao meu Centro de Saúde, irei. Não sei se posso pedir para mudar de médico ou de gabinete (como é no 1º andar e eu não devo subir nem um degrau...) Verei.
Obrigada por comentar.
Beijo