A verdade

Uma rua estreita de Olhão. Chamou-me a atenção pelo nome. Cliquei.

Nos locais por onde nos sentámos para degustarmos os petiscos em terras do sotavento Algarvio, quando chegava o momento das tradicionais bicas, verificamos que os pacotinhos de açúcar traziam mensagens.
Este ano, particularmente, as mensagens transmitidas pelas marcas Chave d'Ouro e Delta pareceram-me muito interessantes. Há quem seja coleccionador desses pacotinhos. Eu apenas me sirvo do conteúdo (gosto de beber café com açúcar). No entanto, de vez em quando guardo alguns desses pacotinhos, já vazios, para mais tarde ir lê-los e até copiar o texto escrito.
Ao ligar este aparelho, hoje que consegui arranjar um tempinho depois da azáfama das arrumações pós-férias, fui à caixa de e-mail, sempre a abarrotar de mensagens. Uma delas, enviada por C. Vitorino (obrigada), 'sem palavras' era o assunto. Abri. Consultei. CORRENTE PRA FRENTE - What is the score? . Apanhou-me desprevenida pela seriedade, pela verdade que os autores conseguiram transmitir na ponta de um lápis. É a verdade, este desenho. Não é demagógico, nem goza a situação.

Está ali uma estória. É-me familiar. A Verdade, nome de rua, que fez a diferença pelo artigo definido, feminino, singular 'a'.

Depois de ver e rever este desenho, lembrei-me que tinha lido num dos pacotinhos de açúcar que tinha trazido comigo de férias, qualquer frase que se aplica a este desenho. Procurei e encontrei. Está escrito:

- Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para assegurar a si e à sua família a saúde e o bem-estar. A Carta dos Direitos Humanos assim o assinala.

Quem se assegura que a verdade destas palavras é cumprida? Ainda ninguém. Escrevemos, ditamos leis, mas quem se preocupa em cumpri-las? Passamos por situações de intensa indiferença perante a realidade da pobreza que pessoas juntinho a nós, vivem. A força brasil também é força portugal. E mais lá para cima, noutros países. E mais lá para baixo. Estamos a afundar-nos. Há a fome. Há a indiferença. Salve-se quem puder. Este modo civilizacional já deu o que tinha a dar. Penso eu de que.

O que é que está a fazer a adrenalina brotar aos homens e mulheres portugueses, brasileiros ... Que causa nobre é esta que os faz correr aos bandos a urrar de alegria ou dor? Futebol! Bendita seja esta anestesia das massas.

Se a vontade destes milhões de criaturas estivesse voltada não para o futebol, não para as idas a pé ao santuário de fátima, mas com a mesma determinação e vontade, voltadas para acabar com a extrema pobreza junto delas, seríamos bem mais PESSOA. Que desperdício de vontades.

Quando acabar esta euforia, voltaremos a ser tristes. As bandeiras vão ficar nas varandas e janelas até que o frio, a chuva e o vento do próximo outono / inverno as esfarrape. Nada mais digo.

PS - voltei a abrir este post. Portugal perdeu com a Alemanha (Marido diz que jogámos bem). Que vai ser agora de nós? Sem Scolari, sem Futebol? Proponho um novo jogo: Vamos ajudar a acabar com a miséria? Com a mesma gana? Bora!

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