Noite tranquila



Há terras, sítios, lugares, no nosso Portugal, onde a noite é mesmo escura, onde os animais saem dos esconderijos e convivem connosco, noctívagos também, onde o silêncio tem sons.
Passou-se há uns dias, numa encosta de um dos montes da Serra da Lousã. Noite escura, já jantados, vivíamos os últimos momentos de umas curtas férias de apenas 5 dias. Desfrutávamos um pouco de um bem-vindo fresco que já não se aguentavam os 30 graus de temperatura diurna. Olhávamos a Estrada de Santiago e viajávamos. A olho nu. E marido «olha Marte. Olha a Estrela do Norte. Olha as Ursas». Se o senhor meu Pai ali estivesse, referiria mais algumas, ele que foi marinheiro e viajou num lindo Navio Veleiro de nome Sagres. Cada luz fixa, um sol. Cada luz treme-luzente, um planeta. Biliões e biliões, como referiu Carl Sagan.
E estávamos bem. 
Nisto, um som musical desviou-nos a atenção. Concertina a esta hora só pode ser o Carlos. Desviámos o olhar mas não o conseguíamos ver, só ouvir. Afinal, ele mora em frente, lá à frente, a uns metros de distância. Descemos à Terra. Ouvimos e acompanhei algumas cantigas (que eu também as conheço). Era a última noite. Vamos até lá? Fomos. Não sem antes cobrir-mos os braços com uma camisola, porque realmente tinha arrefecido bastante e mais, porque os que à noite se alimentam picando-nos, andam à solta e picam que se fartam.
Escura a noite, pela calçada fora, sem lanterna e com luar, uma centena de passos estávamos lá. Boa noite! dissemos. «Olha quem está a ouvir-me tocar», disse Carlos. «Entra e olha para o degrau», disse sem parar de tocar. Entrei e olhei o degrau. Um sapinho, tentando disfarçar a sua presença de encontro ao muro, na sombra da luz do candeeiro de rua. Não levava a máquina dos cliques, mas o telélé anda sempre comigo não vá ter a sorte de apanhar um risquinho na antena durante a deslocação e receber uma mensagem ou mesmo uma chamada telefónica. Com o telélé cliquei-o. Tive de o trazer comigo, como recordação, porque ainda há quem refira que os mata porque cospem para os nossos olhos...
Enquanto ouvíamos o reportório de Carlos, o sapinho sentiu-se incomodado e foi à vida dele. Segui-o com alguns cliques, poucos por causa do flash. Uma ternurinha que não virou príncipe, continuou na sua condição de sapo porque não o beijei, mas desejei-lhe Sorte.
Entretanto lá captei um som, sem imagem por falta de luz artificial embora a luz da Lua nos acompanhasse no seu quarto crescente, quase a esconder-se por detrás do Penedo. 
Parece que é assim: «Eu quero ir à minha terra / quero ouvir o cuco a cantar / quero ver as estrelas no céu / eu quero ver altinho o luar».
O sapinho, vai a seguir.
Boa noite!



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