Colhedora de pedras

Depois de uma cama nova com lençóis frescos e fofos, espero bem que as hortenses se habituem a este canteiro e expandam raízes. Vou esperar florirem. Os vasos, de barro, foram rachando à medida que três Invernos transformaram a terra em gelo e vice-versa, com o calor de cerca de 40 graus C.
Aprecio imenso hortenses. Pelas cores que podem adquirir conforme os nutrientes que as águas carreguem ou acrescentados pela minha mão. E são resistentes. Para se viver num sítio como aquele, tem de se ser resistente.
Sei que o tempo da muda não foi o certo. Enquanto as mudava, fui conversando com elas, que iriam ficar em melhor cama, que desejava muito que se aguentassem e vivessem felizes. Até lhes enfeitei o canteiro. Com pedras. E enquanto o fazia, viajei. Estávamos entre Vila Praia de Âncora e Moledo. Avistámos uma ermida lá ao longe. Encaminhá-mo-nos para uns clics. Por um caminho com nome de rua engraçada - do Caído. Não lhe chamaria melhor, pois todos os passos que demos foi a controlar o chão que pisávamos.
Para lá da Capela de Santo Isidoro, a estória das pedras. O chamamento do mar. Tinha de me aproximar do mar. Só espreitar. Ainda a fazer a digestão, ouvi em tom de admoestação e daí a pouco os pés já molhados, foi sentar-me, ficar a olhar aquele azul e a ouvir aquele som enrolado. Foi bom. E foi também o princípio de uma canseira.
À minha volta, todo a terra era composta de pedras com formato ovo. Nunca tinha olhado nada assim. De grandes como um ovo de Páscoa até pequenas como de codorniz, tinham tons diferentes e eram de diferentes origens. Impossível não trazer algumas. Quando o sol começou a ser incomodativo, levantei-me e virei colhedora de pedras. Para um monte. Depois foi escolher as mais bonitas para um outro monte. Ficaram mais dos que as que trouxe. Mais traria, se Marido não fosse o carregador-mor de tudo o que transportamos quando em viagem.
Até de pedras, lamentou-se! ... Mas eram tão originais!

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