Cabrito preto

«Tens de vir ver o cabritinho que nasceu. É todo pretinho.» Peguei na máquina, despedi-me com o olhar da cadeira onde me encontrava sentada com um até já e fui. A tarde estava quente. O céu mostrava-se azul, salpicado de vez em quando por uma negra nuvem, que largava a carga de água e seguia o seu rumo ao sabor do vento.
Valeu a pena olhar e clicar. Tem cerca de uma semana este bichinho. Sorte a dele ter nascido perto da Páscoa. Se fosse mais velho duas semanas, já tinha ido. Que mania horrorosa essa de sacrificar estes pequenos para degustação pascal.



A mãe cabra e um primo pequeno aproximaram-se desconfiados, tal como outros mamíferos quadrúpedes quando um humano deixa o seu odor de colo no pelo da cria.

Manteve-se o bom tempo. Ela esperou-me. A esta hora, a sinfonia da tarde ainda não tinha começado. Os meus ouvidos citadinos parecem ensurdecer perante o silêncio, que é de ouro, prata e pedras preciosas.

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