Hoje recebo flores, por ser Mulher. Amanhã um desrespeito pela mesma razão.

Não recebi prenda do meu homem. Recebi apenas duas mensagens via telélé de duas amigas e uma via blog, de um amigo.
Desde que este dia é festejado em Portugal, eu nunca soube se devia agradecer o ensejo de um «feliz dia-internacional-da-mulher». É que eu penso que os «Dias Internacionais de» existem porque algo está mal, para serem sentidos, discutidos, de maneira a que haja uma tendência para terminarem, saírem do calendário, porque se alertaram as consciências e o modo de agir se alterou. Existe o Dia-Internacional-do-Homem? Não.
Não consigo viver este dia como um dia de festa e como tal, de consumismo. Ainda por cima este ano calhou no dia de Carnaval. Quem ouviu ou leu o que significa haver um dia só para celebrar a Mulher? E quem estava interessado em ouvir? Penso que a maioria andou a mascarar-se e divertir-se porque deu mais importância ao Dia de Carnaval, ou a exigir prendas dos respectivos (ai dele se se esquecesse), ou a pensar no preço das gasolinas, das taxas de juro, dos futebóis e afins. Hoje em Portugal, uma notícia: Diada Mulher: Governo vai apresentar pacto para promover a igualdade no mercado de trabalho». Mas não há leis que a regulamentam?
Compreendo, apesar dos pesares, o facto de haverem Homens a oferecerem flores, bombons e outros mimos às suas Mulheres. Se há um dia-internacional-da-mulher marcado no calendário, há que comemorar. Não fará mal, se são agradáveis no dia-a-dia.

O Mundo é masculino? Ainda parece ser.

Pois é por isso que este dia é de luta, não só de prendinhas. Pela igualdade plena. Não por favores, pactos políticos, simpatias dos patrões.
Nós, as Mulheres, precisamos fazer-nos respeitar como seres humanos que somos. Não são as «liberdades» que hoje a maioria das «futuras-Mulheres» pensa possuir que farão delas seres iguais aos homens. Não é por aí o caminho. É o Direito de ser Pessoa.
Os Kadafis deste Planeta podem ser retirados do Poder pelos seus povos, e até saírem do seus Países vivos, porque há outros Países que os recebem. No entanto, os homens-povos que foram para as ruas para se libertarem dos opressores são os mesmos que aceitam leis radicais em que as mulheres estupradas, por exemplo, são mortas por terem perdido a honra.

Hoje recebem flores, bombons e outros mimos. E amanhã? As Mulheres de hoje serão tratadas de diferente maneira só por terem tido o seu Dia? Penso que não. Sem lembrança séria nem memória, muitas delas continuarão a ser durante toda a hora, todos os outros dias do ano, por esse mundo fora, amesquinhadas, ofendidas, usurpadas, maltratadas, violadas, vendidas, descriminadas, apedrejadas apenas e pelo simples facto de terem nascido Mulheres.

Todos os dias, simbolicamente, deveríamos receber flores, bombons e mimos. Durante a vida toda porque sim, porque somos Pessoa, porque somos as Fêmeas Humanas. Porque Todos devíamos tratar com respeito os nossos semelhantes. Tratar com respeito tudo o que nasce, cresce e morre. Animais e vegetais, incluídos.

Como me considero educada e sou uma Mulher, aceito e retribuo o ensejo para este Dia, enviado pelas duas amigas.
Como Criatura Humana, aceito o ensejo do mundo que o festeja como uma promessa de continuação da luta para a mudança de mentalidade no dia-a-dia, no sentido da Igualdade de Direitos e Deveres, de facto. Não no papel em Leis que podem ou não ser cumpridas, não em pactos sociais.
Aceito o ensejo pelos exemplos que expresso nas minhas atitudes e pensamentos.
Aceito o ensejo pela necessidade enorme de nos sabermos respeitar, para «eles» nos respeitarem. Não somos iguais aos Homens. Somos semelhantes.
Por fim, aceito o ensejo na esperança que tenho - e que é a última a morrer - na mudança de paradigma que tem de acontecer, a pouco e pouco, nas sociedades e nos Povos. Por causa dos Kadafis deste mundo, os Homens também se maltratam. Quando isso acontece todos, homens, mulheres e crianças à sua volta, sofrem. Deveria criar-se o Dia Internacional da Humanidade.

Mulher é a fêmea do Homem, o macho, ambos Humanos e portanto semelhantes. Que vá sendo incutido por todos nós, os pensadores, os políticos, os educadores, os parentes e os amigos que o Mundo até pode ser do género «masculino», mas Natureza é do género «feminino».
Ambos são um só, na perpetuação da sua espécie.

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