Propaganda

A palavra Propaganda - ou o conceito de persuasão por qualquer método preverso - é utilizada desde o Séc. XVI, e parece-me que, instituída pelo Papa Gregório XV, que não gostava nada dos métodos utilizados pela cristianíssima Espanha e pelo cristianíssimo Portugal na divulgação da palavra de Cristo pelo Mundo. Li num artigo de Maria Alice Fabião que esse Papa promolugou a encíclica Incrustabili divinae, que instituiu a Congregatio de propaganda fide (Congregação para a Propagação da Fé), a cujo cargo fica a direcção suprema dos assuntos eclesiásticos nos países não católicos, ponto final. Propaganda, a palavra, nasceu, para se tornar religiosa.
Mas há mais Propagandas.
Eu gostava que lessem, de Sophia de Mello Breyner Andresen, *Convite à palavra*. Porque estamos em época de eleições, lembrei-me dele. Porque se fala muito e escreve muito, para fazer passar o tempo a alguns, fazer perder o tempo a outros e tentar converter aqueloutros. Os políticos actuais, porque utilizam a palavra, sempre a palavra para nos embalar e levar à propagação dos seus interesses, das suas verdades. Esquecem-se que temos memória. E que temos as nossas verdades e os nossos interesses também, a maior parte das vezes bem diferentes dos deles. Que cansaço não haver nada de novo, para além do pesadelo!
Há que lembrar, fazer um esforço de memória.
Este poema, penso, foi escrito em 1974.

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Com fúria e raiva acuso o demagogo / e o seu capitalismo das palavras. // Pois é preciso saber que a palavra é sagrada / que de longe muito longe um povo a trouxe / e nela pôs sua alma confiada. // De longe muito longe desde o início / o homem soube de si pela palavra / e nomeou a pedra, a flor, a água / e tudo emergiu porque ele disse. // Com fúria e raiva acuso o demagogo
que se promove à sombra da palavra / e da palavra faz poder e jogo / e transforma as palavras em moeda / como se fez com o trigo e com a terra.

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