Escrevi em papelinhos

Ando em arrumações, de novo. Guardo imensas folhas soltas, bocadinhos delas, com palavras escritas que foram ouvidas ou copiadas, naquele instante de tempo que passou. Releio-as e acho interessante o facto de as ter escrito e guardado. Não mudei e compreendo porque guardei.
É certo que há que deitar fora o que já não é necessário estar guardado. Actualmente tenho outros suportes, como por exemplo este sítio. Os papelinhos escritos guardados por mim, são aos quilos. A ver se vão alguns para ficar o espaço para mais os recentes. É um hábito que ainda não perdi.
Está escrito assim, neste que tenho à minha frente:
Compaixão e piedade serão a mesma coisa? Não. Por exemplo, amar alguém por piedade é ser mais favorecida que esse alguém, é inclinar-me, baixar-me até ele. Ao passo que "Amar alguém por compaixão é de facto não amar essa pessoa. Nas línguas onde a palavra compaixão não se forma com a raiz «passio igual a sofrimento» mas com o substantivo «sentimento», a palavra é empregue mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente se pode dizer que designe um sentimento mau ou medíocre. A força secreta da sua etimologia banha a palavra de uma outra luz e dá-lhe um sentido mais lato: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com o outro não só na sua infelicidade mas sentir também todos os seus outros sentimentos: alegria angústia, felicidade, dor. Esta compaixão designa portanto, a mais alta capacidade de imaginação afectiva, ou seja, a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia das dos sentimentos, é o sentimento supremo. "(*)
Já está amachucado. Menos um :).

(*) Milan Kundera «A insustentável leveza do ser»

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