Flores para Cecília


Cada mulher tem direito ao melhor cuidado de saúde possível. Ao trabalhar 20 anos com mastectomia, tornou-se claro para mim, que o melhor cuidado envolve mais do que fornecer próteses mamárias. É necessário um bom atendimento e cuidado na prova visual final, para que tanto as clientes como quem as assiste nas provas, fiquem satisfeitas. É um prazer proporcionar-lhe tudo isto e acompanhá-la no caminho para recuperar um novo sentido de auto-confiança, dia a dia. É isso que faço e é isso que espero das pessoas que comigo trabalham diariamente. Faço o que gosto e não o que sou “obrigada” a fazer.”
Ana Paula Branco, Amoena Portugal
Pergunto directamente, à queima roupa: É mastectomizada? Vai ter de usar uma prótese mamária para o resto da sua vida? Porque faço esta pergunta? É simples. Conheço uma mulher, a quem vou chamar de Suzy, que é mastectomizada há 50 anos, está viva e a mexer. Desde esse tempo que ela sofre pelo «espartilho» com prótese dentro que foi obrigada a usar. Um soutien de algodão, com cós até à cintura e alças largas, que prendia à cinta com botões e atrás, nas costas, apertado numa dezena de colchetes. Nos verões, passou muitos dias sem sair de casa por não conseguir aguentar aquela coisa vestida. Com o passar dos anos, foi aliviando as suas dores pondo-se «à vontade», o que significa dizer que não usava nada vestido para retemperar forças, psicologica e física. E permanecia em casa alguns dias. Por um lado era certo o alívio, mas por outro não era saudável para a mente nem para o restante «corpo». Há que andar e andar e andar... e conviver.

Desde a mastectomia que Suzy mandava fazer os seus soutiens, em algodão, na Rua da Madalena em Lisboa, numa casa de artigos ortopédicos. Nessa casa, a dona, muito simpática, que entretanto faleceu de cancro na mama, executava as peças à mão e depois na máquina de costura. Peça única, depois de tiradas as medidas e escolhido o tom de tecido. Mas sempre que necessitava de renovar a prótese, era apresentada outra idêntica - dura, desconfortável, pouco ou nada anatómica.

Quando surgiram as primeiras próteses em silicone e os fatos de banho, viu-se uma luz ao fundo do túnel. Chegámos a ir também, as duas, à Farmácia Estácio no Rossio (que não tinham o tamanho) e até à Liga Portuguesa Contra o Cancro, Núcleo de Lisboa (LPCC). As senhoras simpáticas nada mais apresentavam que próteses pouco anatómicas ao caso de Suzy. Portanto, nem prótese, nem fato de banho. Ficou nossa convicção de que a LPCC para além de boas palavras, pouco mais tinha para oferecer. Que era um local preferêncial para «as mulheres mastectomizadas» no IPO de Lisboa que rapidamente se sentiam «inteiras de novo». Eram encaminhadas e algumas encontraram algo que preencheu «aquele vazio». Por pouco dinheiro.
Mas e as outras, como Suzy? Quando existem mais soluções no mercado, é desumano não encaminhar. Eu não tenho e não vendo, mais ninguém tem e há-de vender. É um pouco à portuguêsa esta maneira de «ser». Só que não era arroz ou açúcar, era uma prótese mamária. Há que juntar humanidade a essa «venda». Repito, nem a loja na rua da Madalena, nem a LPCC de Lisboa apresentaram outra solução. A resposta foi a mesma, que o problema era ter a mama grande demais(!!!) e o buraco deixado pela ablação cirúrgica, há 50 anos, ser difícil de preencher, ficar bem composto.
«Todas as mulheres são diferentes, razão pela qual a Amoena oferece uma extensa gama de próteses, que variam em mais de 700 modelos em conceitos, formas, tamanhos e cores adaptando-se facilmente a qualquer tipo de corpo e de cirúrgia.» Pois é. Só ontem. Foram muitos dias, muitos meses, muitos anos. Suzy nunca desistiu de se apresentar bem, apesar do sofrimento que aquela coisa lhe causava. Os pratos da balança estiveram em desequilíbrio muitos anos. A sua coluna sofreu um desvio, a ponto de ter de conviver, hoje, com uma hérnia ao nível lombar. Uns dias bem, outros menos bem, Suzy foi superando sem contudo eu deixar de reparar que cada vez mais a revolta, o cansaço e o desespero de se sentir dorida e ter de ser assim ia aumentando com o avançar da idade. Entretanto, os sotiens em algodão deixaram de se confeccionar. Não há peças de algodão à venda no nosso País! Que desespero! Foi atamancando como sabia e podia, os que ainda guardava. Até ontem.

Há alguns meses atrás, eu presenciei na Praça da Alegria, no canal 1, a apresentação de próteses mamárias para todos os gostos, feitios e bolsas. Fiquei estupefacta. Tomei notas e pedi por e-mail, o contacto. Quando ele chegou, transmiti-o à heroína desta estória e ontem, após prévia marcação, Suzy rejuvenesceu. Eu emocionei-me com a «consulta». Mantendo-me sentada e afastada, presenciei com agrado e alguma emoção o atendimento que lhe foi dispensado. As dúvidas tiradas, os exemplares experimentados, a leveza de se sentir normal após 50 anos, de sentir pela 1ª vez após mastectomia um soutien sem cós, contendo uma prótese Amoena, que se movia com ela... Para nosso espanto, ouvimos que já existem no mercado há 15 anos. E nós desconhecíamos. E a LPCC também. E a loja da Rua da Madalena, idem.
Por isto, esta conversa escrita. Para informar que há no mercado 700 modelos de próteses mamárias, feitas a pensar que cada mulher mastectomozada é diferente nas suas necessidades.

Pela felicidade encontrada de novo pela senhora heroína desta estória, a Suzy, que saiu à rua com o seu novo bem estar, feliz por ter abandonado em cima da secretária um peso morto - deite isto para o caixote - deixo o meu agradecimento público a Cecília Sousa, a «vendedora e conselheira» da AMOENA. Continue a ser a pessoa bonita que é. Contribuiu muito para a nossa felicidade. Bem haja.

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