Clics na Serra da Lousã: Flores aos molhos


Serão maçãs ou peros? Para mim serão peros. Por serem alongados e doces. Não deixam contudo de ser uma variedade de maçãs, os frutos comestíveis da macieira, de forma arredondada e polpa consistente. Mas cá em casa, maçã é arredondada, pero é alongado.

Esta árvore foi plantada pelo senhor meu Pai, há muitos anos, quando passou à Reserva e não à Reforma. Moradores na Capital, assim que pressentia o tempo de primavera, saía de Lisboa com a senhora minha mãe e migrava para a Serra, este marinheiro farto que ficou de mar. Acompanhava-o o Borda D'Água - o que nós ríamos - e da Casa das Sementes, na Baixa de Lisboa, levava sementes para plantar. Quando chegavam as férias de Verão dos filhos e se juntavam, os miminhos que ele apresentava nas traseiras da casa são inesquecíveis. Havia feijão verde ou já a secar para ser debulhado, pimentos, tomates, alfaces, morangos ... e o nosso pai-marujo tinha jeito, gosto e virou uma espécie de agricultor.
Os anos foram passando, haviam árvores que davam frutos, outras não, outras secavam de vez. E o senhor meu pai a pouco e pouco, foi-se afastando daquela vida de agricultor. Até que desistiu - pelo cansaço e pela chegada de uma neta que lhe ocupava o tempo e lhe proporcionava muito mais prazer do que mexer na terra. Quanto às árvores, elas que dessem o que pudessem em troca de uma cavadela e algum tratamento borrifado. A desculpa dele: É que aquele terreno manhoso é só pedras, só pedras e pouca terra... uma trabalheira para nada.
Mas esta macieira fincou raízes, sendo por isso uma das originais. Sempre frondosa oferecia boa sombra, abrigo à passarada e alimento para insectos. Dava uns "peritos ranhosos", só pele e caroço, mas que eram doces, muito doces, que só ele e eu os roíamos. Isso até faz mal à barriga, ouvia eu de quem os despresava.
Os anos passaram e o dono mudou. Agora é de Mano. Muito cuidadas, algumas novas, parece outro o Serrado. Dei lá um salto. Apresentou-se assim. Olhei e espentei-me perante esta manifestação floral da macieira e dos que à volta das flores lhes sugam o nectar, num frenesim incontido, num zunir constante e forte de dezenas de insectos, voando de flor em flor.

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