Dia Mundial do Café e de recordar

Recordo-me de ir pela rua entre meus pais, de braços esticados, mãos dadas a cada um deles, num daqueles passeios que fazíamos após jantar, no Verão. Descíamos a Morais Soares em direcção ao Chile, cortávamos à direita a subir ao Areeiro. Em frente ao Império, na Alameda, virávamos de novo à direita e subíamos até à Actor Vale. Ao fundo da rua da minha escola primária, estava o Largo onde eu nasci, o Mendonça e Costa. Era uma senhora volta e não sabíamos que andar fazia bem à nossa saúde. Andávamos porque sim e pronto. Ajudava a digestão. E nem havia televisão em casa! Nessas saídas, euzinha ganhava de presente ou um iogurte da UCAL ou um gelado de dois sabores na Rua Actor Vale. Era a recompensa, depois de uma canseira daquelas. Quando chegava à cama era tiro e queda.
Vale esta estória porque hoje é DIA MUNDIAL DO CAFÉ.
Moliendo Café, um som que está no meu imaginário, que vem de longe. No tempo e no espaço. Ano 1960. Origem Venezuela. Era uma miúda. Continuei a ouvir esta cantiga durante alguns anos para além dos passeios em direcção ao Areeiro onde som chegava à rua, vindo de uma casa, repetido vezes sem fim - vira o disco e toca o mesmo. Era cantada por um homem. Moliendo café. «Olha lá está o café» e trauteávamos e ríamos. Havia um Manuel lá cantado (nome de meu avô) que passava a vida a moer café. A letra encontrei-a na NET. É essa que está em baixo. Fui procurar a música original, do compositor venezuelano Hugo Blanco, no ano de 1958. A letra é talvez de José Manzo. Não encontrei. Fica este filme, sem voz mas com interpretação original de Hugo Blanco. Não encontrei melhor.


Cuando la tarde languidece
Renacen las sombras
Y en la quietud los cafetales
Vuelven a sentir
Que son triste canción de amor
De la vieja molienda
Que en el letargo de la noche
Parece decir.

Una pena de amor, una tristeza
Lleva el sambo Manuel en su amargura
Pasa incansable la noche
Moliendo café.

Cuando la tarde languidece
Renacen las sombras
Y en la quietud los cafetales
Vuelven a sentir
Que son triste canción de amor
De la vieja molienda
Que en el letargo de la noche
Parece decir.

Una pena de amor, una tristeza
Lleva el sambo Manuel en su amargura
Pasa incansable la noche
Moliendo café.

Cuando la tarde languidece
Renacen las sombras
Y en la quietud los cafetales
Vuelven a sentir
Que son triste canción de amor
De la vieja molienda
Que en el letargo de la noche
Parece decir.
---*---

Já agora, Café, é uma bebida feita com água e uma das minhas preferidas. Frio, quente, em refresco, em gelados, bolos, que sei eu. Cheirar um pacote de café depois de vazio é um prazer.
A todos os Manueis que passam as noites a moer o café, por causa de um desgosto de amor, um abraço.

3 comentários:

Unknown disse...

um abraço para si tambem!

Elvira disse...

Olá. Passar a noite a moer café devido a um desgosto de amor não é mau, o pior é bebê-lo vezes sem conta até que passe a vontade de dormir, ou o sono - aí não se esquece a pessoa amada nem de noite; está-se acordado! Bem, lembro-me desta música romântica que também ouvi em miúda, mas não sabia que era o seu autor; dela, da letra, e quem a cantava. Mas tem todo o ar de vir daqueles lados, Venezuela, Paraguai, Argentina. Agora relembrei e gostei, mais uma vez. Não preciso dizer, também adoro café. Beijos.

Guidinha Pinto disse...

Tina, abradeço a visita.
Beijo

Elvira, e eu não sei?!
Beijo