Violência escolar


Flores para ti, Leandro, mais um menino ido antes do seu tempo, por culpa desta sociedade onde teve a infelicidade de nascer e crescer.

Foi notícia 2ª feira e continua a ser. De novo. Ainda não apareceu o aluno do 6.º ano da Escola Básica Luciano Cordeiro, que teve a intenção de terminar com a sua vida.

«Na aldeia de Cedainhos, concelho de Mirandela, os cerca de 80 habitantes, todos eles parentes próximos uns dos outros, estão desesperados com o desaparecimento de Leandro Filipe nas águas frias do Tua.»
Quantos anónimos estão a ler-me neste momento e que são ou foram vítimas de maus tratos nas escolas? Maus tratos dentro das escolas ou nas imediações das mesmas, físicos ou psicológicos, intencionais, infligidos pelos colegas a um elemento, porque sim. Violência continuada, pontual.

Lá para o Norte, agora, os colegas-crianças de 11, 12 anos que malharam no Lenadro, só e indefeso, estarão a ser acompanhados psicológicamente? Ou era apenas uma diversão entre miúdos e ninguém vai dar importância?

Estou chocada. Não consigo nem imaginar o desespero em que uma criança de 12 anos se encontra, para afirmar e concretizar um acto que é minha convicção ser impensável nessa idade: pôr termo à própria vida por já não aguentar mais.

Que se passa? Estaremos todos cegos que não saibamos a diferença entre sopapos e desavenças entre jovens e maus-tratos que infligem a um mesmo outro? Olhamos para o lado como é costume...

Os pais destas crianças maltratadas desconhecem que os seus filhos são maltratados nas escolas?As escolas e os seus funcionários não têm a obrigação de intervir quando assistem? Não aceito que a desculpa seja a falta de funcionários, porque os que existem, observam e fazem vista grossa. Não é preciso ser formado para verificar que alguém está a ser maltratado, em grupo. Só é preciso ser bem-formado, ter consciência. Desta vez a culpa não é do Governo. É da sociedade civil. As Associações de Pais nas escolas existem. Para quê? E as crianças violentas, não serão marginais em formação? Estão a ser criadas ao deus-dará por todos os intervenientes no seu crescimento.

Depois duma tragédia como esta, há apoio psicológico para a família e para quem mais precisar. Mas e antes? Não seria mais profiláctica a intervenção dessa área da medicina nos jovens reconhecidos como violentos nas escolas? E nas suas famílias que os estão a deixar ser violentos?

Como é possível ninguém - pais, irmãos, amigos - ter conhecimento do sofrimento de Leandro e agir, quando também é informação que «há cerca de um ano, Leandro Pires já tinha estado internado dois dias no hospital de Mirandela depois de ter sido agredido por colegas da escola. "Desde aí continuaram a bater-lhe"»?!

Vejo muitos filmes é certo. Mas um Hospital em Portugal não é obrigado a reportar à Polícia a entrada de uma criança, vítima de maus tratos?

Então como é que ninguém reconhece que sabia do caso?

Céus! Em que povo nós estamos a transformar-nos!

Que, de novo, a culpa não morra solteira, como no caso de Beatriz Carreira e de muitos outros jovens-meninos que neste momento não me veem à idéia.

3 comentários:

Elvira disse...

Bonito gesto o teu de ofereceres estas flores ao Leandro... ele merece, mais do que ninguém, e este artigo, juntamente com as flores, ficarão para quem quiser ver! Também estou chocada; a que ponto de desespero chegou este menino para ter tal atitude, realmente estranhíssima numa criança desta idade, e mais estranha ainda por ter sido devida a maus tratos na escola! A culpa é de facto da sociedade civil, dos professores, funcionários das escolas e pessoal dos hospitais, que estão lá, mas não "vêem" e não fazem nada. Chegámos a um ponto de degradação em todos os níveis que é ultrajante... Nunca tinha ouvido falar em suicídio por parte de uma criança desta idade, pelo menos neste país! Fiquem bem.

Guidinha Pinto disse...

Obrigada Elvira por comentares.
Beijo.

Paula Santa Cruz disse...

Boa tarde Guida,
Infelizmente este assunto deve nos tocar a todos porque fazemos parte desta sociedade. O ano passado passei por este problema com o meu filho, o qual era ameaçado verbalmente com situações muito graves. Se para nós são situações muito difíceis o que será para uma criança de 11 anos? Tivemos a ajuda da escola que nos deu todo o apoio e castigou os alunos, só temos a agradecer ao conselho executivo.
Infelizmente, por aquilo que ouvi hoje nas notícias, a escola do Leandro não quis saber. O que é de LAMENTAR!!! Talvez hoje o Leandro estivesse vivo se a escola tivesse dado todo o apoio que eles DEVEM E TÊM A OBRIGAÇÃO DE DAR por estas coisas acontecerem na escola.
Bjs
Paula