Nova Confraria do Cabrito e da Castanha

Da Prima Laura: mãe-cabra e dois filhotes

Castanhas dos nossos castanheiros (2008)

Do cadafaz-gois.blogspot roubei para aqui divulgar. O nascimento de mais uma Confraria no Concelho de Góis.

Um pequeno àparte. Estou por dentro do trabalho que dá ser pastor de cabras numa zona do País pobre em alimento - é só fraga, apesar da cabra ser um animal rústico e resistente às mais adversas condições de ambiente. Elas até silvas comem. Tudo bem. Mas é preocupante observar o preço a que se vende o quilo de carne de cabra. É vendida ao preço de chuva, nos talhos e nas grandes superfícies. É uma afronta para os pastores de cabras. E para as cabras também. Quanto custa uma cabra (viva) buscada no curral? 40 a 50 euros. Mesmo assim, ainda há pastores. A carne de cabra é muito saudável por ser pobre em gordura. Tem elevado valor nutritivo e é de fácil digestão. Devia dar lucro, porque os custos de produção, em geral, são baixos. Claro que há truques para que esta carne não tenha «aquele cheiro» que afasta algumas pessoas de serem apreciadoras/comensais e esses truques têm de ser transmitidos aos pastores. Por exemplo, os machos, de qualquer idade, excepto os cabritinhos até 1 mês, devem ser castrados, quando destinados a abate, para que melhorem a qualidade da sua carne e ela fique mais macia, saborosa e não retenha o cheiro, principalmente dos bodes mais velhos, devido às glândulas especiais que possuem nas bases dos chifres. Esta informação foi buscada na Net. Que pastores conhecem e praticam? Eles perderam a prática da capação e com receio de infecções, não o fazem. Pagar a alguém que o faça, aumenta os custos. Há que informar, há que reunir e transmitir conhecimentos para que não acabem os pastores e os rebanhos espalhados pelas nossas Serras.
Para além de eu apreciar a sua gastronomia, é muito bom o som dos badalos que a aragem nos trás. E o gosto que tenho em as observar enquanto buscam o alimento pela serra, em locais impensáveis para nós, empoleiradas, esticadas para irem buscar aquela folhinha a abanar na ponta de um ramito. Verificar como elas são curiosas, que não abaixam a cabeça como as ovelhas, que nos encaram e quase nos perscrutem quando nos olham. São bichinhos inteligentes e que sabem o caminho de sua casa. Eu não conseguia ser Pastora, de profissão, a despedida seria impossível, iria à falência num instante. Mas adoraria ter uma cabrinha branca, só uma, que me desse leite para eu fazer queijo e que eu trataria comme il faut. Chamá-la-ía de Carlota. Morreria de velhice. Imagino-a e a mim, lá no meu sítio, daqui a uns anitos. Sonho simples, não impossível de concretizar.
Agora a sério. Vamos consumir o que é produzido em Portugal.
Penso que as Confrarias ajudam a divulgar.
Um dia destes proponho-me confrade :)
Para ler a notícia da nova Confraria, clic aqui

2 comentários:

O.Bandeira disse...

Da.Guidinha Pinto
li todo o seu texto e gostei! A senhora fala de 50 euros o custo de uma cabra,mas digo-lhe não,hoje um "pastor"chega a pedir 150,ele sabe o trabalho que teve ate ali! agora como vamos chamar a essa "coisa"exposta em alguns lugares a 1,50 euro o kilo,O que comeu,quanto pagou na inspecção,quanto ganhou o intermediario e feitas todas estas contas não chega 1,50euro,parece que o pastor teve que pagar?! Tenho pena que muita gente não dê valor ao trabalho e a qualidade que ja pouco,mas ainda temos! Sei de algumas iniciativas de rebanhos comunitarios,alias tivemos um no Rabadão ,e o que deu?
Ele a coisas de muito valor ,mas e na cabeça de muita gente e no papel!...mas depois desses negocios parece que cada Português deve nem sei bem quanto a UE!

Acompanho e admiro o seu Blogue,parabens!

O.Bandeira

Guidinha Pinto disse...

Bom dia O. Bandeira :). Obrigada pelo comentário e por me ler.
Quando eu refiro 40 ou 50 €, não é que eu assista ao negócio, mas é a própria pastora que me informa, geralmente depois de ter tratado do rebanho e se alguma adoeceu. «Já viste o trabalho que me dá e agora está doente?» É realmente um esforço muito grande manter um rebanho de cabras saudável. Se há pastores que pedem 150 € por uma boa cabra, aí sim, já será uma boa recompensa pelo árduo trabalho. Mas como em tudo na vida e principalmente entre nós, há sempre o xico-esperto a aproveitar-se e na outra face da moeda tem forçosamente que estar o palerma que se deixa enganar e que «vale mais pouco que nada».
Não nos sabemos valorizar. Somos muito pouco escrupulosos.
Fique bem.
Um abraço.