Laptop ou em cima do colo - uma prenda de aniversário

Uma estória sobre um tema que nunca referi. Novas tecnologias e os seus imbróglios.
Vamos para a Serra da Lousã. Mais propriamente para Cerdeira. Foi em Setembro. Parece uma cantiga, mas não. Já partilhei por aqui diversos momentos com fotos e estórias. Todos os anos, desde a existência de telélés nas nossas mãos, que esta estória se repete. Este ano duplicou por causa dum computador de colinho, ou seja, um portátil, ou seja um laptop.

É quase impossível aceder a uma qualquer rede de telemóvel. Mesmo assim, para o laptop, disseram-nos ser a TMN um pouco mais ampla na sua emissão. Por isso, dirigi-mo-nos a uma loja em Góis para confirmar o que nos tinham dito: a TMN é a rede que melhor se apanha para estas bandas. Mas só cá por baixo, lá em cima não vai conseguir.

Estamos na Beira Baixa, Concelho de Góis, a cerca de 800 m de altitude. A meio do País. Estamos numa encosta, em frente a um Penedo a 1048m de altitude. Por detrás do Penedo, situa-se o Trevim a 1205m de altitude e tem nas suas imediações uma pista de aviação utilizada de Verão para combate aos fogos florestais e uma bela vista sobre a vila da Lousã e sobre o *meu* calhau.

Nem o laptop, oferta de aniversário de Marido este ano ;) nem o telemóvel de novíssima geração, na apregoada e actualíssima era das comunicações funcionam. Levei-o comigo, qual cachopa feliz pela prenda, mas apenas me serviu de máquina de escrever e de álbum fotográfico. É ridículo, é uma brincadeira. Só pode ser. É ausente qualquer ponto de cobertura de Internet.

Leio: é preciso reforçar a importância das novas tecnologias para combater as assimetrias regionais ... Wi-Fi com inauguração e tudo, mas
Só em Góis!? Imagino-me na casinha, no cimo da Serra. Marido! Leva-me a Góis. Vou estar um bocadinho na NET. E lá vou eu carregada com o laptop, de carro com motorista que eu não tenho carta de condução, fazer mais de duas dezenas de quilómetros (há o ir e o regressar) para usufruir da Wi-Fi desde que tenha acesso wireless, que deve ter por ser recente, não sei e demonstro a minha ignorância. Vai decerto haver um banco para me sentar, lá no Largo. Ponho o portátil ao colo e abro o browser. Depois escrevo não sei o quê e o login é coimbradigital@ptwifi.pt, a password é hotspot, mas isto depois hei-de aprender. Mando o motorista às favas e fico ali, se tiver sorte e for uma das 22 que acede. E já está. Fácil, né? E os Magalhães senhores, e os Magalhães? Depois volto para casa, no carro com motorista.

Voltando aos telélés, só posso sorrir, se não dá mesmo vontade de chorar por sentir uma raiva desgraçada a brotar-me do peito. É complicado sabem? Quando a noite vem e não pensamos sair de casa, está na hora de ouvir a voz da família que não está connosco. Como não temos a PT instalada na casa da Serra - só para férias? era só o que faltava, paga-se um balúrdio - então comunicamos como? Através da rede móvel. Claro. E pego no telélé que esteve a carregar mudo e quedo. Como sou uma pequena dada a raivas mas ocasionais e rápidas - só de pensar sorrio - tenho de sair para a rua. Imaginem-me no pátio lá de casa, ou a andar rua acima rua abaixo com o telélé na mão e braço no ar, dando uma volta lenta de 360 graus, umas vezes apontando o Penedo, outras a Pena, outras o Vale Torto, outras para a Póvoa e outras ainda a Estrada de Santiago ou Via Láctea. Parece que estou a calcular a latitude e a longitude do lugar ou a tentar contactar a mãe do E.T., mas não. Só ando à procura da rede da TMN para ligar cá para dentro do Planeta Terra. Ah e caminho sem poder olhar o que piso que pode acontecer ser um sapinho-príncipe, uma aranha, um grilo, uma(s) caganita(s) de cabra, eu sei lá mais o quê. E as melgas e outros sanguinários insectos noctívagos? É cada baba. E depois, se aparecem um ou dois risquinhos azuis já dá para ligar, aqui tem, grito, que bom, mas logo que baixo o braço, lá se vão. E se não se vão toda a gente do Lugar ouve o que dizemos, porque o altifalante tem de estar ligado "Olá, tudo bem?" ... um atraso de vida, como diz a minha santinha. Só assistindo às cenas.

Chateia-me ter concluído só em Góis conseguir ligar-me à NET, quando estou no cimo da Serra. E a caminho, enquanto a descemos ir fazendo telefonemas mas com algum receio de na curva seguinte, a chamada cair e eu ficar a falar para o boneco. Já aconteceu.

Mas está tudo bem. Temos Sol em Outubro, temos água nas torneiras, não temos guerras nem outras coisitas más.

Meus senhores das redes móveis TMN, Vodafone e Optimus, dá para espalhar mais antenas pelas franjas da Serra da Lousã?

5 comentários:

Anónimo disse...

boa noite,
tem todo o meu apoio, na sua estória, e como tal vai daqui para o blog dos penedos para que chegue mais longe a sua divulgação
O Penedo

Guidinha Pinto disse...

Obrigada. Lá no seu sítio consegue apanhar alguma coisa? Ou é mesmo e só férias?
Fique bem.

Guidinha Pinto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Boa tarde
Tambem é uma realidade, é só mesmo férias .

até á próxima ou quem sabe talvez aos "Santos "em Gois

O Penedo

Paula Santa Cruz disse...

Gostei de ler o seu texto, o qual me fez sorrir, porque o que conta também já me aconteceu para conseguir apanhar rede, no Cadafaz. Infelizmente poucas são as aldeias do concelho de Góis que conseguem ter rede móvel. As aldeias da serra são muito prejudicadas tanto a nível de rede móvel como fixa. No Cadafaz, a fixa funciona muito mal, quando 1 telefone avaria quase metade da aldeia fica sem telefone, já aconteceu 2 vezes na mesma semana. Não vale a pena fazer queixa por telefone ou por escrito, porque tudo infelizmente continua na mesma.
Disseram-me que as antenas dos telemóveis eram colocadas, a pedido das Juntas de Freguesias, não sei se é verdade ou não. O futuro passa pelas comunicações e não tendo rede móvel, o concelho vai ficando para trás, cada vez mais atrasado nessa área.
Paula Santa Cruz