Da educação cívica

A propósito de falta de educação, li este artigo, do qual publico apenas uma parte desenvolvida do título.

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O enorme descrédito que atinge hoje o regime democrático impõe que se erija em questão central a educação cívica, entendida esta no sentido de preparação para a cidadania, para (con)viver de maneira política, social e moralmente responsável.

Em primeiro lugar ela deverá prevenir a crescente e letal influência exercida pela ignorância e pelo populismo, cujo predomínio constitui o mais grave problema da democracia. Por isso a educação cívica assume-se como uma competência para a comunicação argumentada. Para pôr cobro à incapacidade para expressar exigências ou para compreender as que são formuladas pelos outros, para argumentar a favor das posições próprias e para refutar os argumentos e ardis alheios, para ultrapassar a carência de compreensão dos direitos e deveres impostos pela vida em sociedade e para contrariar a acção retrógrada e patológica de tribos, lobies e corporações de
interesses ilegítimos. São os cidadãos ignorantes, todos com direito a opinião e a voto, quem sustenta os populistas e demagogos que prometem o paraíso e o bacalhau a pataco e arranjam bodes expiatórios para todas as crises e frustrações.

Em segundo lugar a educação cívica leva em conta a máxima de Aristóteles, de que “ninguém pode chegar a governar sem ter sido antes governado”. Isto é, todos temos que adquirir o sentido da equidade e responsabilidade, aprender a obedecer a leis e a praticar os valores partilhados. Até porque a trave mestra da democracia consiste em que nela não haja especialistas em mandar e especialistas em obedecer, mas sim em que todos os cidadãos sejam aptos para desempenhar os dois papéis. Por isso será cívica a educação que optimize os cidadãos, que os forme como príncipes inter pares, inculcando neles tanto a condição de mando como a de obediência, tanto a de objecto das leis como a de sujeito delas. Sendo os meios que justificam os fins, a democracia só tem justificação se for servida por este tipo de cidadãos.
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Jorge Olímpio Bento: Educação cívica, liberdade e humanidade; Rev. Port. Cien. Desp. v.5 n.3 Porto set. 2005

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