1º transplante de órgãos em Portugal

Em Portugal, o dia de hoje também é comemorado. Com o mesmo número de anos - 40 que os americanos na Lua. Salve Dr. Linhares Furtado e todos os que desafiam o conhecimento e renovação e assim fazem avançar a ciência e Portugal, sendo o segundo país do mundo com mais doações de órgãos por milhão de habitantes. Pois.

Falo por mim. É à portuga, mais nada. Não penso que os milhões de portugueses desejem ser dadores de orgãos. Porque têm de estar mortos para serem dadores de órgãos. Que têm de ser saudáveis e de terem o azar de morrer antes do tempo. Houve um acidente na estrada, não há cartão, lá se vai o conteúdo para doação. Ser um dador vivo, de sangue, de medula, é diferente. Está vivo, consciente do acto. Não penso que os portugueses tenham consciência de que desejam ser dadores de órgãos. Só não querem saber do assunto a sério e adiam a escolha de quererem não ser dadores de órgãos. Ganham as estatísticas e Portugal fica bem visto. Cínica eu? Não, realista. Temos poucos órgãos em duplicado. Não é a esses que me refiro.
Vejamos. Compreendo o desespero do homem que tem a possibilidade de sobreviver mais uns anos à sua degradação física, prolongar um tantinho mais a sua vida e aguarda um transplante. Compreendo aqueles que estão à espera, embora me arrepie ouvir *nunca mais sou chamado* como se se tratasse de uma operação às cataratas... porque alguém tem de morrer e ser compatível para satisfazer a sua espera! E não ouvimos que cada um é um ser único no mundo? As probabilidades são muito baixas. Há que ter paciência.
Eu não irei ser dadora nem receptora de órgãos. Ninguém de sabedoria me irá convencer a receber um órgão porque eu não o desejo. Chegou o dia, irei, qualquer que seja a situação. Não sou Objectora, por consciência. Sei que nada dentro de mim pode ter valor para outrem. Se eu for antes do tempo e me abrirem porque não tenho cartão, paciência. Vão ter uma surpresa - só o grande coração vale a pena ser visto mas não pode ser transplantado!
Agora a sério. Não consigo separar o acto da colheita de órgãos do facto de essa colheita ter sido efectuada a outro que partiu sem ter percorrido o seu caminho. Outro alguém que está a ser chorado, antes do tempo. Eu não consigo.

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