Gataria ou bichanada

A Câmara Municipal de Lisboa informa que é da CP. A CP informa que é da Câmara Municipal de Lisboa. Uma longa tira de terreno entre a linha de comboio e as traseiras dos prédios da minha rua. Erva alta, agora verde, mais tarde seca como palha, roçada duas ou três vezes por ano por um funcionário da Junta, antes que alguma beata lançada de alguma varanda a incendeie. Aconteceu mais que uma vez.
Quem fica a ganhar? Esta gataria ou bichanada.
Há anos atrás, quando à janela ouvia uma voz de mulher gritar "gaaaaatuus, gaaaaatuus"!, não me apercebi quantos eram. Só sabia que havia alguém que os alimentava. Com o passar do tempo, com mais tempo para gastar, pus-me à coca. Porque realmente me interessei, dei com eles. Lindos, muitos. Não os chamo "gaaaatuus"!, mas bshbshbsh! E eles correm, saltam, todos a olhar para cima e para o chão. Tantos bichanos! De diversas gerações.
Antes de eu os ver, já eles me olhavam e esperavam. As misturas de tigres com pretos e malhados tem vindo a aumentar. Os pretos desapareceram há uns anos. Não deve haver muita consanguinidade, porque eles são, na maioria, muito saudáveis.
E claro, há 1 ou outro que mais me cativa. Os machos, territoriais, de vez em quando andam à pancada. Ficam algumas mazelas que depressa são lambidas e saradas.
Para ajudar a alimentar esta bichanada toda, resolvi dar uso aos restos das refeições, e em vez de 4, passei a cinco escolhas de lixo. Eles são mais de 12, coitados. E inofensivos.
Este é o Míu. De olhos amendoados. Quando era pequenino, filho único de uma gatinha nova, tinha este miar: miúmiú. E ficou o Míu. Afas, o meu amiguinho, ajudou à nomeação. Até chegou a comprar ração e a ir com o avô, pelas traseiras, colocá-la perto deles ... claro que não conseguiu que nenhum se aproximasse e desistiu. Vai pela janela fora mesmo, com alguma força e jeito nosso, eles conseguem alimentar-se.

Este é o meu "protegido", porque ele acha que sim, que é seu direito. Tem olhos amendoados também. Para já, é amigo do Míu. Dormem enroscados um no outro. Quando voa o jornal com a comida dentro, ele fica de lado, parado a olhar-me. Só tem esta atitude comigo. Não corre como os seus primos esfomeados. Não. Fica à espera de alguma coisinha só para ele. E eu tenho quase sempre uma coisinha só para ele. A culpa é minha. Hábitos que se adquirem mas que por vezes não dão certo, o vento desvia a trajectória do miminho e vem outro mais rápido. Lá fica ele, coitado, a ver navios ...

Estes são família, mais chegada. Os olhos são redondos. Falta-lhes as manchas brancas dos outros dois. E estão em maioria.
São uma ternura , dão vida às ervas e esperam de nós apenas o essencial para sobreviverem. Que me custa?

2 comentários:

Sarita disse...

Pois é mais ou menos o sistema que eu arranjei com os gatinhas que rondam a minha casa, eles não me dão a mão, mas na altura do almoço e do jantar, eles cá estão a miar para que eu lhes ponha uns restos de comida numa taça que eu pus na rua...
Um deles a que dei o nome de bebé quando era mais pequeno, não sei se por coincidênia ou não, em vez de dizer "miau" dizia "maiii" muito fininho, o que aos nossos ouvidos parecia "mãeee"...
É o meu predileto... =D

Guidinha Pinto disse...

Ainda bem que existimos ... digo eu!
Beijo Sarita