A troca de prendas que se tem por hábito fazer em certas épocas do ano, a natalícia é a que mais gozo e trabalho me dá. Desde que me lembro, gastar parte do meu tempo de vida, em Dezembro de cada ano, a planear o que hei-de oferecer a este e àquela ... é obra, porque ainda são uma vintena deles.
Se por um lado, alguns vão desaparecendo da lista, por ausência temporal ou permanente e isto são outras conversas, por outro, há sempre novos conhecidos a listar. Quando penso que já comprei tudo para todos, há sempre mais um que falta.
E pergunto-me: Será que as compras que faço para oferecer no Natal aos amigos e familiares, ou mesmo a alguém a quem devo obrigações, como sui dizer-se, me tornam numa consumidora natalícia, mais uma a contribuir para a percentagem do consunismo por consumismo? Serei pior pessoa por querer presentear alguém nesta época? Não é um momento feliz para quem dá e quem recebe? Se o acto contribui para acrescentar um brilhozinho de felicidade nos olhos das pessoas, porque não? Afinal, desde que eu me conheço, sempre houve prendas no Natal. Eram as prendas que me tiravam o sono e mais tarde a meu irmão também, porque dias antes e perdida a inocência do sapato na chaminé, já nós andávamos numa roda viva, à espreita aqui e ali, sem sucesso. Esperávamos então ficar sozinhos quando a mãe saía a compras ou assim e lá íamos nós procurar aqueles embrulhos de cores vivas. Corríamos tudo, desde debaixo das camas até à despensa na cozinha. Como nunca encontrámos nada em baixo, só podiam estar escondidas em cima. Então íamos buscar um banco de cozinha e eu, por ser mais velha e portanto mais alta, subia nele. Em bicos de pés, tentava abrir as portas do roupeiro embutidos na parede do quarto dos pais. Eram os esconderijos predilectos deles. Afinal, eram locais inacessíveis para nós desde que eles estivessem em casa para nos controlar, claro.
Apesar de tudo, o querer saber se há prenda e o adivinhar o que é, não é coisa só de gente pequena. Anos já passados, fui dar com a senhora minha mãe a meter o dedo e virar os cartõezinhos das prendas que estavam debaixo da árvore de Natal, à procura dos dela. Foi apanhada em flagrante delito. Ainda hoje falamos nisso e sorrimos. E então quando há crianças! A curiosidade, a espera da meia-noite e depois a troca. A surpresa estampada nos rostos, às vezes. Gostas? Meias outra vez?! O abrir e pôr de lado dos miúdos - quero mais! Vó, vai pôr o meu sapato na chaminé outra vez! Ficou combinado trocar se não gostares ... tantas frases tantas vezes repetidas, beijos, abraços, obrigados, enfim, é um momento mágico. Por ser uma vez por ano. Perdiria o encanto, se assim não fosse.
Continuamos, entre nós, a trocar prendas. Depois da Consoada e antes da meia-noite. Com mais ou menos dinheiro na carteira, afinal, há um lote tão grande de escolhas. Só é preciso imaginação. Algumas das minhas escolhas recairam em: último livro de Mário Zambujal - Já não se escrevem cartas de amor; uns chocolatinhos da Cacau Sampaka; Umas bolachas da Nacional, da Triunfo e da Vieira de Castro; velinhas bem cheirosas; sabonetes Castelbel de alfazema, limão e lírio; o DVD do filme Mamma Mia; Chás Lipton e canecas do Gato Preto e da Genevieve Lethu; Umas coisinhas de prata da Stone.
Enfim, coisinhas simples que irão dar prazer aos sentidos durante muito tempo, prolongar a lembrança da festa e recordar com carinho quem as ofertou.
Mais uma vez, vem aí o Natal. Mais uma vez, um Feliz Natal. Sempre com prendas. Enquanto eu puder.
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