Terminei o Transmitir. Vou inventar este blog

Foto de Tia-Guida

Olá sobrinhos-meus. Começo este novo blog como um lavar duma mágoa. Sou a vossa tia. Sou a mulher que espera dia-a-dia ouvir a voz, receber um e-mail, um postal ... dos filhos que outros têem, que são vocês, os meus sobrinhos.
Que posso fazer se falta tempo para mim? Que posso fazer contra - está a estudar - saiu com amigos - foi a uma festa - foi almoçar fora - foi ao centro comercial - foi ao cinema ... quando eu lhes telefono?
Que posso fazer contra:
- 'Olá! Estás bem? Então novidades?' e obtenho como resposta
- 'Nada de especial!'
- 'Nada de especial mesmo?' como se um teenager de hoje não tivesse imaginação para perder 2 minutos com sua tia. E instala-se um mutismo de sins e pois. E pouco mais há para inventar, para prolongar a ligação. A minha frase, para terminar é:
- 'Ok. Foi só para ouvir a tua voz! Beijinhos.' Vou continuar a telefonar. A deixar recados. As crianças têm mais necessidade de modelos do que de críticas, li algures.
Eles não percebem como é importante só ouvir a voz. É que eles ainda não sentiram dentro deles o valor da perda, da ausência permanente. Não há novidades? Tenho de aceitar. Que posso fazer contra a indiferença, o desapego? Nada. Não quero ser chata! De modo algum. Definitivamente isto não é um lamento, mas continuo a sonhar que um dia virá em que as terei como amigas-próximas. 'O homem começa a envelhecer quando as lamentações começam a tomar o lugar dos sonhos' disse John Barrymore.
Espero pelas duas alturas no ano que sinto que eles são Sobrinhos, obrigatóriamente - nos seus aniversários e no Natal. Mas não é para todos. Desisti de dois. Com muita pena minha. Marido costuma dizer *que a vida ensina* ... Mas ensina o quê a quem? Eu sinto-me mal e prontos. Será que foi nossa falta?!? Houve anos seguidos de lembranças de Natal listadas, pensadas, compradas e enviadas pela avó deles que nem um obrigada mereceram. Anos seguidos. E quem não se sente, não é filho de boa gente, lá diz o povo. Sei deles e gosto do que ouço deles. Fico contente por serem sobrinhos-bonitos. Uma vez por ano a avó deles reune a família. E é como se estivessemos reunidos na semana anterior!!! Falamos, rimos, uma alegria. Principalmente por causa do T.
Sinais dos tempos? Falta tempo? Falta de ... outras coisas? Tudo é possível.

5 comentários:

Anónimo disse...

Não se apoquente porque eu próprio me queixo do mesmo desprezo que os mais jovens da minha família me dedicam. Por mais que eu faça, é só naquele momento. Conhece a frase "filho és pai serás ..."??? a vida vai ensiná-los.
Saudações cordiais.
A.P.

Anónimo disse...

Olá.
De tanto ver apresentações de Portugal e ver a assintura, não me contive em procurar e aqui cheguei.
Agradeço as lindas imagens de Portugal que são tão importantes para pessoas como eu, filho de imigrantes e que herdou muito amor por Portugal.

Grato
Salvador

Guidinha Pinto disse...

A.P., inflizmente não estou sozinha neste desabafo. Só que ganhei coragem e escrevi.

Salvador, venha sempre que quiser. É bom ser visto. Comentado, ainda melhor. Esteja em casa.
Eu é que agradeço.

Margarida disse...

Olá Guidinha!
Felizmente temos alguém da família a quem telefonar e desejar ouvir a sua voz, infelizmente eles os jovens ainda não aprenderam que o mais importante na vida é o tempo que dedicamos aos outrose os ajudamos a ter uma vida melhor. eu que tenho dois filhos, uma neta , uma carrada de sobrinhos também sinto esse vazio.
A minha mãe já me disse: (quando a tua neta tiver 10 anos já não prestas para nada!) É que ela já de lá vem como costuma dizer...
Adoro este teu blog, sinto-o muito familiar, e a família é uma coisa boa, o pilar da sociedade, como se os jovens entendessem disso!!!
beijinhos da amiga guida

Guidinha Pinto disse...

Sabes Guidinha, ontem falei com uma das minhas sobrinhas - a Pitú. Atendeu o telefone porque os pais estavam ocupados.Vai fazer 17 anos para a semana, mas como não estou a olhar para ela, parece-me que é a Pitúzinha de 8 ou 10 ou 13 anos. Eu que sou o que sou (cota) e não mudo, fiz uma festa ao ouvir a sua voz. E fartei-me de perguntar coisas ... que ela respondeu, com aquele "ar" de senhorinha, sabes... parecia ela a tia e eu a sobrinha brincalhona de 10 anos. Mas é o que há. E eu aproveito.
Beijo.